terça-feira, 1 de julho de 2014

O Brasil num voo cego para o abismo socioeconômico

Digo cego diante da persistência e irresponsabilidade de quem pilota, e digo cego porque insistem em tapar a visão do povo para a real situação do país apenas com a ilusória pregação da distribuição de riquezas. Mas, afinal, que distribuição é essa? Nós assistimos a quatro tipos de distribuição da riqueza: 1º) O privilegiado grupo de empresas que só vive em simbiose e cumplicidade com a alta corrupção da elite política. 2º) Os governantes de primeiro e segundo escalão. 3º) O corporativismo do alto funcionalismo público, dos três poderes, que assiste à alta corrupção e cujo silêncio é pago com altíssimos salários ou com a própria prática da corrupção no varejo. 4º) E, finalmente, a menor parte: a esmola do Bolsa Família, destinada à gigantesca ignorância nacional para garantir a continuidade dos mandatos políticos. Essa é a verdadeira distribuição da riqueza nacional, praticada por governantes que unem a grande incapacidade de plantar com a exagerada vontade de colher. Os efeitos desse modo de governar são gravíssimos porque, no futuro, eles não aceitam mais correções num ambiente democrático. Desse modo, avançamos cada vez mais para o mesmo caos da ingovernabilidade que gerou a intervenção militar de 1964. Hoje, todos os políticos no poder querem recriar a história a seu modo e, em vez de combater as causas do golpe (porque são as mesmas, e cada vez mais praticadas hoje), convenientemente combatem seus efeitos. Ora, nenhum brasileiro consciente quer ditadura. O que nós queremos é um governo competente e ético, que defenda, sim, uma democracia de direitos, mas com uma radical rigidez na cobrança dos deveres, de todos: primeiramente na governança e na administração pública, com postura exemplar, para depois exigir o mesmo da sociedade e do contribuinte. Com o atual modelo institucional na área tributária, o governo está sobrecarregando a sociedade com excessivas obrigações, enquanto agrada aos políticos e ao corporativismo do Estado com fartos direitos, tirando sem escrúpulos da área produtiva para colocar e inchar a área improdutiva. Resultado: um governo gigante que quer mais e uma sociedade economicamente enfraquecida que não aguenta mais, com muitos deveres de um lado e fartos direitos de outro. Nosso modelo de governo, como uma ditadura disfarçada, é totalmente dedicado à eficiência e ao aprimoramento arrecadatório tributário, com sinais claros de que ninguém está preocupado com a eficácia e o rigor na administração dos recursos arrecadados. É muito fácil distribuir dinheiro e a esmola do Bolsa Família por um governo que teve uma arrecadação multiplicada em 500% em 12 anos, apenas graças ao aprimoramento da máquina arrecadatória. Com tanto dinheiro em mãos, a preocupação foi apenas comprar apoio político e dar asas à corrupção. Pergunto: se a arrecadação aumentou 500%, os investimentos em infraestrutura, serviços públicos, como saúde, educação e segurança, aumentaram quanto? 500%? Não. 400%? Não. 300%? Não. 200%? Tenho minhas dúvidas. O que nos foi demonstrado até agora, em 12 anos de PT, é que a capacidade de nossos governantes, infelizmente, não permite gerar riqueza. Apenas distribuí-las. E a riqueza, se não é gerada, um dia acaba, como acabou em Cuba, e como acabou na Venezuela. Por isso é que essa nossa direção é o abismo. O estrago é tanto que, mesmo se todos decidissem parar de roubar, há de se perguntar: como fazer para desinchar a máquina do Estado, que está superlotada de tanta gente apadrinhada? Como fazer para baixar os altíssimos salários generosamente concedidos para ter apoio institucional do poder público e administrativo? Como recriar tantos empregos no setor produtivo já destruído e aniquilado pela insuportável truculência tributária e por tanta imposição de funções sociais por meio de leis trabalhistas demagógicas? Como diminuir o custo da dívida pública se ela só tende a aumentar devido ao alto custo do governo? Se a história de cada país é dividida em períodos, o Brasil, que já viveu o ciclo da borracha e o do café, vive hoje o que podemos chamar de “Período do Absurdo”. Absurdo, por ver e ouvir exaltar a “defesa dos trabalhadores”, no “Dia do Trabalho”, por políticos que de tudo gostaram na vida, menos de trabalhar. Absurdo, por ver e ouvir candidato à reeleição de um partido há 12 anos no poder que não fez quase nada e ainda tem a coragem de prometer coisas e mais coisas. Absurdo, por ver e ouvir governantes pregando a igualdade e a distribuição de renda e assistir aos enriquecimento instantâneo de tantos políticos e seus familiares. Absurdo, por ver e ouvir todos os políticos no poder condenando (com razão) as atrocidades militares de uma ditadura que aconteceu para defender a nossa democracia e hoje, sem nenhuma ditadura, permitirem que mais de 50 mil brasileiros inocentes sejam assassinados por ano, por uma delinquência e impunidade institucionalizada. Absurdo, por ver e ouvir que há políticos que, condenados lá fora por corrupção, correm o risco de ser presos pela Interpol no mundo inteiro, menos no Brasil, exatamente onde eles cometeram o crime. Absurdo é ver e ouvir toda uma sociedade esclarecida assistir, inerte, a tantos e tantos absurdos. Prefiro encerrar com as sábias palavras de Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. O autor Cav. Giuseppe Tropi Somma é empresário, membro da Abramaco e Presidente do Grupo Cavemac. Reprodução liberada. Para compartilhar este e outros Pontos de Vista, acesse: www.costuraperfeita.com.br e clique no menu “Edição atual” ou “Edições anteriores”.

2 comentários:

  1. "O pior cego é aquele que não quer ver". Será que os atuais apadrinhados não estão enxergando que quando esta ditadura se firmar definitivamente muito benefícios e beneficiados terão que ser cortados (via PAREDON, talvez) porque a conta não vai mais dar conta?

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  2. Mesmo que a ditadura algum dia venha a se firmar por aqui, ela será tão cínica como as que vigoram, por exemplo, na Venezuela ou na Síria, ou seja, com cara de democracia visto que ela será legitimada pelos beneficiários do poder constituído.
    O problema maior é que para um problema deste tipo e tamanho não existe remédio que não seja amargo e nem doloroso. E quanto mais grave e insustentável ficar a situação, mais impopular será o remédio.
    A grande dúvida será com o fazer o doente aceitar o remédio.
    Para aprofundar mais este entendimento sugiro acessar:
    http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil/?utm_source=M5MPRO&utm_medium=Email&utm_campaign=M5MPRO160714

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