Por João Cesar de Melo
Como um delinquente bêbado, pouco mais da metade
da população decidiu continuar acelerando inconsequentemente na mesma curva que
seus vizinhos capotaram. Capotará também, porém, levando consigo a outra metade
da população que o acompanha sentada à sua direita, no banco do carona. Devemos
ter pena dessa outra metade? Devemos vê-la como inocente? Não. Apesar de sua
lucidez e honestidade, ela sempre foi passiva, tanto, que virou cúmplice de sua
própria tragédia. Foi covarde. Teve medo de impor limites àqueles que pediram e
depois assumiram o volante.
Os culpados pela reeleição de Dilma:
Os culpados pela reeleição de Dilma:
Fernando Henrique Cardoso por sua tolerância com
as sabotagens, ofensas e calúnias que sofreu durante seu governo, o que soou
aos ouvidos do PT como uma permissão para continuar com aquela estratégia de se
chegar ao poder. Qual foi sua atitude diante dos falsos dossiês sobre sua vida?
Nenhuma. Qual foi sua atitude com aqueles que invadiram, depredaram e saquearam
(com apoio de Lula) a fazenda de sua família? Nenhuma. Fernando Henrique
Cardoso não foi homem nem para defender sua esposa (quem dedicou sua vida a
projetos sociais) das calúnias que sofreu.
Nas três eleições seguintes, José Serra e Geraldo
Alckmin concorreram à presidência sem bater no PT afundado em casos de
corrupção e permitindo que Lula e Dilma pejorassem as privatizações de FHC. Nesses 12 anos de governo petista, o PSDB não apenas fez uma oposição frouxa,
mas assistiu passivo o PT promovendo uma massiva campanha de desconstrução do
governo de Fernando Henrique Cardoso.
Enquanto os tucanos tentavam conquistar votos
exibindo a beleza de suas penas, a imprensa e a Justiça também se continham
diante dos desvios e afrontas da esquerda liderada pelo PT. Temendo serem
vistos como a continuidade da postura antidemocrática do regime militar, a
maior parte dos jornalistas, dos meios de comunicação, dos promotores e dos
juízes deram espaço e liberdade para o movimento socialista divulgar suas
ideias, por mais absurdas que fossem – Lula construiu carreira pregando a
espoliação do capital e da propriedade privada. Viram, passivos, o PT sendo
preenchido por aqueles que defendiam o alinhamento do Brasil com todos os
líderes da extrema esquerda latino-americana. Ignoraram o Foro de São Paulo.
Assistiram o PT acolhendo e projetando politicamente ex-guerrilheiros e
comunistas declarados. Livraram muitas e muitas vezes o PT e sua militância do
peso da lei para evitar serem taxados de repressores.
Obviamente, artistas e intelectuais também
passaram a endossar todas as ações de Lula e do PT por vê-los como um poema
revolucionário que levaria progresso ao país.
Sustentando esta tolerância irresponsável estavam
pequenos empresários, profissionais autônomos e assalariados comuns que
tentavam construir suas vidas por si mesmos, por meio de seus esforços e
talentos. Mesmo sentindo a faca estatal lhe cutucando o pescoço com cada vez
mais força por meio de impostos e burocracias, mantiveram-se indiferentes aos
absurdos do governo por… “não gostar de se manifestar sobre essas coisas de
política”; covardia que permitiu aos cretinos e canalhas ditarem o caminho que
o Brasil seguiria. Aqui estamos, assistindo uma ex-guerrilheira comunista sendo
reeleita Presidente da República, ovacionada por uma militância que prefere
ostentar bandeiras do PT em vez de bandeiras do Brasil.
Aécio Neves e seus eleitores foram bravos, porém,
tardios. Levantaram-se apenas quando o PT já estava com a maior parte da
máquina estatal trabalhando para si. Depois de tantos anos sendo complacentes
com as “boas intenções” e com os métodos petistas, agora sentem o amarguíssimo
gosto de se verem condenados a serem meros financiadores de um projeto
ideológico. Gabeira, Gullar e outros intelectuais demoraram demais para se
posicionar contra os absurdos do PT.
Como símbolo da covardia da metade não corrompida
do Brasil, aponto Joaquim Barbosa. Mesmo sendo reconhecido pela população como
um herói por seu posicionamento no processo do Mensalão, retirou-se
covardemente de cena logo quando a sociedade mais precisava dele. Foi ameaçado
e caluniado de todas as maneiras pelo PT, mesmo assim se manteve distante do
processo eleitoral.
Teriam bastado duas ou três manifestações públicas dele em
apoio ao candidato do PSDB para Dilma perder muitos votos. Mas não… Joaquim
Barbosa não quis se meter na política. Prezou sua imagem. Foi covarde.
Infelizmente, foram em vão os esforços e a
coragem das poucas pessoas que nestes anos todos denunciaram os absurdos do PT.
A certeza que tenho é que a metade não corrompida
da sociedade voltará à sua covarde e histórica reclusão enquanto o PT acelerará
a concretização de seu projeto de poder; e ninguém poderá acusá-lo de ter nos
enganado. Todos os seus objetivos sempre foram muito claros. Suas ações, seus
pronunciamentos, suas alianças… Nada foi escondido. Dilma Rousseff deixou bem
claro que não mudará a condução da economia, que não enxugará a máquina
pública, que não tirará nenhum companheiro das estatais, que não deixará de
financiar projetos em Cuba e na Venezuela. O Brasil vai quebrar, pois o PT
precisa que quebre. Quanto pior for a situação do país, Dilma terá mais
justificativas para intervir na economia, na justiça, na imprensa e na liberdade
das pessoas. O PT quer tirar o poder político e econômico da classe média para
torná-la dependente do Estado. Os ricos que não forem embora se aliarão ao
partido.
Anotem:
1 – Dilma forçará sua “reforma política” para
transferir poder do Legislativo para o Executivo e para os “movimentos sociais”
ligados ao PT;
2 – Perseguirá, sem pudor, toda a Justiça e
imprensa não alinhadas ao PT, anulando os processos que estão em curso,
blindando Lula de toda e qualquer acusação;
3 – Remodelará a constituição de modo que
preserve o PT no poder;
4 – Colocará sua militância na rua para intimidar
qualquer manifestação da sociedade independente;
5 – Efetivará as diretrizes do Foro de São Paulo,
institucionalizando um bloco socialista de ajuda mútua entre Cuba, Venezuela,
Bolívia e Argentina.
Adorarei reconhecer, daqui uns anos, que minhas
projeções estão erradas mas, hoje, não me é possível enxergar como processos
distintos o que acontece aqui e o que aconteceu na Venezuela, aonde a maior
parte das pessoas que agora vão às ruas protestar contra o governo foram às
ruas apoiá-lo anos atrás. Arrependeram-se tarde demais. Arrependeram-se não
como um delinquente depois da capotagem. Arrependeram-se como um carona que
permitiu ser conduzido por um bêbado irresponsável. Agora, lá estão os
venezuelanos, presos a uma maca e sobrevivendo de soro.
Logo, o Brasil será um país de arrependidos.
Logo, o Brasil será um país de arrependidos.